segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

A orquídea e o sonho: Uma história real

Leonor Lacourt Sodré é uma senhora discreta, elegante, tranquila, que em 2010 saiu da pacata São Fidélis, às margens do rio Paraíba do Sul, e subiu a Serra do Mar, em direção à também pacata Santa Maria Madalena. Trazia um sonho na bagagem: perpetuar o legado de um avô que não chegou a conhecer.

O legado em questão é uma planta: uma orquídea que é considerada uma “joia rara da biodiversidade brasileira”. Julio Lacourt Sodré, o avô materno de Leonor, a descobriu em 1940 numa das montanhas que cercam São Fidélis e no alto das quais se estende o território de Santa Maria Madalena.

Crédito da foto: Orquidário Recreio

A realização do sonho parecia simples. Agora que estava aposentada, depois de 50 anos de magistério em São Fidélis, Leonor queria fazer trabalho voluntário ajudando a cuidar do orquidário do Horto Santos Lima, em Santa Maria Madalena, onde estaria toda a coleção de orquídeas do avô, incluindo a “joia rara” que ele descobrira.

Mas a história se revelaria bem mais complicada e misteriosa.

O primeiro mistério é o local exato onde a planta foi descoberta, informação que seu descobridor levou para o túmulo. Julio morreu de um ataque cardíaco em 1941, menos de um ano após o achado e logo depois de enviar a orquidófilos do Brasil e do mundo alguns exemplares, filhos da planta original, que conseguira cultivar em seu jardim. Ainda bem que o fez, porque ela nunca mais foi encontrada na natureza, o que confirma sua raridade.

Julio Lacourt Sodré, o descobridor da planta

Nascido numa família francesa que imigrara para Campos no começo do século 20, Julio se fixou em São Fidélis, onde se casou com uma jovem local, Maria Emília do Santos Sodré. Ele era um simples funcionário do Departamento de Correios e Telégrafos, que, nas horas vagas, cultivava orquídeas que recolhia nas matas. Não tinha treinamento científico. Mas, ao topar com o pequeno exemplar de belas flores cor-de-rosa pendurado no alto de uma árvore no meio da mata, intuiu estar diante de uma nova espécie. Tratou então de distribuí-la entre os conhecedores com quem se correspondia no país e no exterior. Por isso, todos os raros, e caros, exemplares existentes hoje em alguns poucos orquidários e jardins botânicos são descendentes do exemplar original encontrado por Julio. Bela e frágil, é uma planta difícil de cultivar e suas flores, que surgem entre outubro e janeiro, duram apenas alguns dias.

Anos depois da morte do descobridor, a planta, já reconhecida como uma nova espécie, foi batizada de Laelia fidelensis pelo botânico gaúcho Guido Pabst, que a incluiu num importante inventário das orquídeas brasileiras publicado na Alemanha em 1975. Mas, desde então seu nome científico já foi mudado pelos taxonomistas (pesquisadores que se dedicam a nomear espécies de fauna e flora) pelo menos cinco vezes: Laelia fidelensis, Brasilaelia fidelensis, Cattleya fidelensis, Chironiella fidelensis, Hadrolaelia fidelensis e, o mais recente, Sophronitis fidelensis.  Isso significa que, quase 100 anos após a descoberta, os cientistas ainda não têm muita certeza de a qual gênero pertence a pequena “fidelensis”.

O sonho interrompido

A história do próprio Julio também é cheia de lacunas. A neta Leonor acha que ele nasceu na França e tinha 16 anos quando veio para o Brasil com a família.  Mas mesmo isso é impreciso.

De concreto, Leonor sabe que, após a morte do avô, sua avó Maria Emília ficou em dificuldades financeiras e decidiu pôr à venda a coleção de orquídeas do marido. Reza a crônica familiar que ela escreveu uma carta ao poderoso governador do então Estado do Rio de Janeiro, Ernani do Amaral Peixoto, genro do presidente Getúlio Vargas.  Ele foi a São Fidélis, gostou do que viu, fez uma generosa oferta. E é aí que Santa Maria Madalena entra na história.

O município já era a sede do Horto Santos Lima, fundado em 1932 pelo botânico local Joaquim dos Santos Lima e então subordinado à Secretaria de Agricultura do estado. Embora sua principal função fosse produzir mudas de árvores frutíferas para estimular a agricultura do município, Santos Lima construiu ali um ripado para abrigar orquídeas e o batizou de Ripado Ary Parreiras, em homenagem ao político que o ajudara a criar a instituição. Amaral Peixoto mandou que a coleção comprada da viúva de Julio Lacourt fosse transferida para lá.

Mais tarde o ripado foi rebatizado de Orquidário Ary Parreiras e o Horto Santos Lima passou a ser subordinado ao INEA, da Secretaria de Meio Ambiente, com a função de produzir mudas de plantas nativas para reflorestar a Mata Atlântica em todo o estado.

Foi ali que, há 13 anos, Leonor, a septuagenária aposentada, neta de Julio e Maria Emília, apareceu disposta a trabalhar de graça. Para sua imensa decepção, descobriu que não havia mais orquídeas no orquidário. Tinham morrido ou se extraviado, tanto quanto o exemplar original de Julio. Mais um mistério na história da Laelia fidelensis, a joia rara achada e perdida.

O antigo orquidário, agora tomado pelo mato

Inspiração para artistas

Para quem quiser ver ao vivo a estrela desta história, há orquidários em Petrópolis, em Niterói, e até um na própria cidade de São Fidélis que a cultivam. Com sorte, talvez se possa até comprar um exemplar. Na internet, um orquidário de Portugal a oferece por 50 euros (mais de R$ 300). Mas o anúncio avisa que a mercadoria está esgotada.

Como costuma acontecer com coisas belas, raras e misteriosas, a Laelia fidelensis tem despertado a imaginação de artistas e artesãos. Alexandre Mury, um artista multidisciplinar e multimídia nascido em São Fidélis e com obras no acervo do Museu de Arte do Rio (MAR) e no Museu de Arte Moderna (MAM), inspirou-se na orquídea que leva o nome de sua cidade para criar um projeto que conecta arte, identidade e cultura.  

Anos atrás, uma prima de Leonor comprou, num evento no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, um par de brincos de ouro, criado por uma artesã de joias. A peça busca reproduzir a beleza da Laelia fidelensis. (Texto: Terezinha Costa)

 

 


quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Cientistas retomam pesquisas sobre os ancestrais em Madalena

Uma boa notícia para a educação e a cultura em Santa Maria Madalena: pesquisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro estão reiniciando hoje, 08 de novembro de 2023, pesquisas sobre as múmias e artefatos indígenas encontrados nos anos 1970 na Toca do Urubu, em terras pertencentes à família Bechara. O material, deixado por um povo que viveu na região desde os meados do primeiro milênio depois de Cristo, está bem guardado e preservado no Instituto de Arqueologia do Brasil, entidade privada que tem autorização do IPHAN. Mas foi pouco estudado nesses 50 anos desde que foram descobertos.

Os sítios arqueológicos serão o ponto de partida de um amplo projeto multidisciplinar – isto é, que envolve especialistas de diversas áreas, como historiadores e educadores, além de arqueólogos e antropólogos. Seu objetivo é estudar a história da formação da diversidade sociocultural da população de nossa região, desde os povos ancestrais até os tempos contemporâneos. Os pesquisadores vão investigar aspectos da história social, ambiental e cultural da região. Para isso, não só vão revisitar os sítios arqueológicos conhecidos, mas farão observações sobre o ambiente em que se encontram. Também vão recolher material sobre as árvores genealógicas das famílias madalenenses e recorrerão até a técnicas de história oral, entrevistando moradores do município.

Andrey Cordeiro (crédito da foto: Nestor Lopes)

Em reunião realizada ontem em Santa Maria Madalena, com alguns moradores interessados no tema, o coordenador do projeto, professor Andrey Cordeiro Ferreira (foto), deu detalhes da iniciativa. O projeto, intitulado “As tradições Una e Tupi-Guarani: Arqueologia e Etno-história Indígena do Rio de Janeiro”, abrange os municípios de Santa Maria Madalena, Itaocara e São Fidélis. O povo indígena que viveu na região é o povo Puri, da Tradição Cultural Una (uma classificação dada pelos antropólogos). Os povos dessa tradição eram serranos, ocupavam a região que vai do rio Paraíba do Sul até a Serra da Mantiqueira (entre Minas e o Estado do Rio) e a margem do Rio Doce, já no Espírito Santo. Tinham hábitos e culturas muito diferentes dos indígenas da tradição Tupi, que viviam no litoral e cujos costumes são mais conhecidos.

Família puri em gravura de 1816
O projeto também prevê a realização de ações de educação ambiental e patrimonial, para conscientizar a população da importância de preservar esses dois tipos de patrimônio público. Já na reunião de ontem, o professor Andrey aproveitou para recomendar aos madalenenses que, por ventura, tenham em seu poder objetos de possível valor arqueológico e histórico, que não os entreguem a qualquer pessoa. A atitude correta é procurar um órgão público federal, como o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) ou uma universidade pública (como a própria UFRRJ) para que sejam seguidos os trâmites corretos para preservação dos bens.  

Da equipe do professor Andrey trazida a Madalena fazem parte a arqueóloga Gina Bianchini, o educador Augusto Rosa e a doutoranda em Ciências Sociais Aline Braz.

Esse projeto é, na verdade, um subprojeto de uma iniciativa mais ampla da UFRRJ financiada pela Faperj e intitulado “Ecologia Social dos Recursos Naturais: Território e Biodiversidade na Mata Atlântica do Rio de Janeiro”, do qual o professor Andrey é também o coordenador. A reunião realizada ontem no auditório do PED/INEA foi organizada pelo madalenense Lucas Lima, um entusiasta da história dos povos originários e membro do Terra Vermelha – Centro de Referência Indígena, entidade mantida por jovens da região serrana.

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Sanfoneiros de Madalena: Alegria e emoção

Para quem perdeu a live, aí está o vídeo do I Festival da Sanfona de Santa Maria Madalena, promovido em 13/02/2021 pela Casa da Cultura Francisco Portugal Neves. O evento reuniu a fina flor dos sanfoneiros madalenenses. Moradores da área urbana e das mais distantes localidades rurais do município, eles driblaram a pandemia gravando suas participações na segurança de seus alpendres e quintais - o que tornou a festa ainda mais emocionante. Confira no vídeo. https://m.facebook.com/search/top?q=casa%20da%20cultura%20professor%20francisco%20portugal%20neves&soft=search#

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Festival da Sanfona em Madalena

 Neste ano não tem carnaval. Mas em compensação tem a doçura e a alegria do I Festival da Sanfona de Santa Maria Madalena. Sanfoneiros da Sede e dos distritos vão se reunir neste sábado (13/02/21) em evento online promovido pela Casa da Cultura Professor Francisco Portugal Neves. Não perca!