quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Cientistas retomam pesquisas sobre os ancestrais em Madalena

Uma boa notícia para a educação e a cultura em Santa Maria Madalena: pesquisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro estão reiniciando hoje, 08 de novembro de 2023, pesquisas sobre as múmias e artefatos indígenas encontrados nos anos 1970 na Toca do Urubu, em terras pertencentes à família Bechara. O material, deixado por um povo que viveu na região desde os meados do primeiro milênio depois de Cristo, está bem guardado e preservado no Instituto de Arqueologia do Brasil, entidade privada que tem autorização do IPHAN. Mas foi pouco estudado nesses 50 anos desde que foram descobertos.

Os sítios arqueológicos serão o ponto de partida de um amplo projeto multidisciplinar – isto é, que envolve especialistas de diversas áreas, como historiadores e educadores, além de arqueólogos e antropólogos. Seu objetivo é estudar a história da formação da diversidade sociocultural da população de nossa região, desde os povos ancestrais até os tempos contemporâneos. Os pesquisadores vão investigar aspectos da história social, ambiental e cultural da região. Para isso, não só vão revisitar os sítios arqueológicos conhecidos, mas farão observações sobre o ambiente em que se encontram. Também vão recolher material sobre as árvores genealógicas das famílias madalenenses e recorrerão até a técnicas de história oral, entrevistando moradores do município.

Andrey Cordeiro (crédito da foto: Nestor Lopes)

Em reunião realizada ontem em Santa Maria Madalena, com alguns moradores interessados no tema, o coordenador do projeto, professor Andrey Cordeiro Ferreira (foto), deu detalhes da iniciativa. O projeto, intitulado “As tradições Una e Tupi-Guarani: Arqueologia e Etno-história Indígena do Rio de Janeiro”, abrange os municípios de Santa Maria Madalena, Itaocara e São Fidélis. O povo indígena que viveu na região é o povo Puri, da Tradição Cultural Una (uma classificação dada pelos antropólogos). Os povos dessa tradição eram serranos, ocupavam a região que vai do rio Paraíba do Sul até a Serra da Mantiqueira (entre Minas e o Estado do Rio) e a margem do Rio Doce, já no Espírito Santo. Tinham hábitos e culturas muito diferentes dos indígenas da tradição Tupi, que viviam no litoral e cujos costumes são mais conhecidos.

Família puri em gravura de 1816
O projeto também prevê a realização de ações de educação ambiental e patrimonial, para conscientizar a população da importância de preservar esses dois tipos de patrimônio público. Já na reunião de ontem, o professor Andrey aproveitou para recomendar aos madalenenses que, por ventura, tenham em seu poder objetos de possível valor arqueológico e histórico, que não os entreguem a qualquer pessoa. A atitude correta é procurar um órgão público federal, como o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) ou uma universidade pública (como a própria UFRRJ) para que sejam seguidos os trâmites corretos para preservação dos bens.  

Da equipe do professor Andrey trazida a Madalena fazem parte a arqueóloga Gina Bianchini, o educador Augusto Rosa e a doutoranda em Ciências Sociais Aline Braz.

Esse projeto é, na verdade, um subprojeto de uma iniciativa mais ampla da UFRRJ financiada pela Faperj e intitulado “Ecologia Social dos Recursos Naturais: Território e Biodiversidade na Mata Atlântica do Rio de Janeiro”, do qual o professor Andrey é também o coordenador. A reunião realizada ontem no auditório do PED/INEA foi organizada pelo madalenense Lucas Lima, um entusiasta da história dos povos originários e membro do Terra Vermelha – Centro de Referência Indígena, entidade mantida por jovens da região serrana.